16 de outubro de 2010

Green Day: rock divertido e despretensioso "para toda a familia"

Ontemdia 15/10, Paulo Malária foi ao show do Green Day na Arena HSBC e, mais uma vez, enviou sua colaboração para o Blog do Lobo que a publica, devidamente autorizado pelo autor.

Ir a um show do Green Day 5 dias depois depois de assistir ao Rush, que alguns dizem ser "o maior trio da história de rock" (os fãs de Cream e EL&P terão seu próprio ranking), podia acabar se tornando um anticlimax. O Green Day não tem repertório para fazer frente ao do Rush, nem a intenção é essa. São músicas rápidas, simples, diretas e pesadas. Quando acertam na mão, é clássico instantâneo e festa rock'n'roll. Quando não, fica apenas repetitivo, sem chegar a ser chato. Uma banda que começou fazendo punk rock despretensioso, conquistou fãs em todo o mundo por sua qualidade e hoje segura a barra de ter se tornado um ícone americano, num momento em que a America não sabe muito bem como quer se mostrar ao mundo.

Preliminarmente: como é melhor ir a um show na Arena. Estacionamento intra-muros (verdade que caro) (*), "venue" coberta, visibilidade e som razoáveis até para quem fica no lugar mais distante possível do palco, como eu e a Paula ficamos, comida e bebida a preços não tão caros e sem tumulto, banheiros de verdade! Não são caixotes plásticos com um buraco à guisa de latrina! Pena que não caibam mais de 10 mil espectadores ali - ora, então façam Arenas maiores, reabilitem o Maracanãzinho, mas poupem-nos do dissabores da Porkeose! Como é bom poder se divertir despreocupado sem ter que enfiar o dinheiro, os documentos e o celular na cueca! E sem ter que tomar banho ao chegar em casa!

O Green Day não abandonou totalmente suas raízes punks, e parece fazer parte delas um compromisso com o público de tocar de verdade. Já lá pelo final, o cantor, guitarrista e lider da banda Billie Joe Armstrong fez um discurso exaltado dizendo algo sobre o show deles não ter "tecnologia", o que só pude interpretar como: não tem base pré-gravada. Se for isso, terá sido o primeiro show grande ou médio que assisto em muito tempo sem lançar mão deste recurso. De onde estava, não consegui ver se estavam usando headphones, obrigatórios quando o músico toca em cima de um sequenciador (**). O certo é que eles abriram mão da imagem de trio e puseram no palco vários músicos de apoio, pelo menos três: um guitarrista e dois tecladistas, um dos quais lá pelo final passa para o sax. Com isso o espetáculo pôde oscilar entre a maçaroca sonora que é a assinatura do Green Day e outros climas, inclusive um inacreditável set de classic rock e rockabilly onde os músicos tocam deitados! Detalhe: nessa hora, o baterista Tré Cool vira frontman e assume os vocais, enquanto Billie Joe pula para a bateria. Se você não souber que o trio são eles dois e mais o baixista Mike Dirnt, poderá até ficar em dúvida quanto a quem afinal é Green Day e quem é músico de apoio.

As 2h40min de show se passaram de forma divertida, com a banda desfiando quase todos os seus grandes sucessos, a maior parte deles concentrados nos albuns "Dookie", de 1994, e "American Idiot", de 2004. As composições do primeiro são mais despojadas: "Basket Case", "She", "Burnout", "When I Come Around". A Paula reclamou da ausência de "Welcome to Paradise", e me lembrei de uma coisa que li certa vez: muitas bandas deixam alguns hits propositalmente de fora do setlist de uma turnê, para que os fãs que adoram aquela música façam questão de ir no show da próxima. Querem saber? Eu acho isso meio skrout. Mas são as regras do rock biz.

Já o conteúdo do "Idiot" é mais sofisticado tanto em termos de harmonia quanto de arranjos, e acho que as letras também. O Green Day encontrou um nicho no mundo rock dos Estados Unidos pós-atentados como a banda que toca rock porrada com mensagens, "punks with an attitude". "Wake Me Up When September Ends", que encerra o bis, sem dúvida se refere ao genocídio de 11 de setembro. Acontece que o album de estúdio seguinte, e o mais recente até agora, "21th Century Breakdown", de alguma maneira desviou esse foco para mirar em outro público. Não li as letras, não sei se continuam politizadas, mas o alvo agora são kids. E aí, fica bom pra eles (os kids), mas um pouco estranho para os rockeiros de mais idade.

O Green Day é daquelas bandas cujos shows procuram espichar o máximo possível cada música. Afinal, cada "selection" implica em pagar direitos autorais para a editora, mesmo as músicas sendo deles mesmos; portanto, se um tema que em estúdio dura 2 minutos e meio puder ser esticado para 5 ao vivo... Billie Joe clincha, provoca a plateia, abusando do corinho "êêê, ôôô". Se veste com a bandeira do Brasil e simula acasos, pinçando do gargarejo jovens fãs para terem seus 15 segundos de glória em cima do palco. Aí é que a coisa degringola de vez em quando. Tá na cara que aquelas pessoas que dançam, cantam e se abraçam ao Billie Joe foram pré-selcionadas, talvez entre os fãs-clube da banda. "Agora eu preciso de um voluntário" foi caô repetido várias vezes, e mentir pega mal para um ídolo politicamente correto. Ainda mais quando o "voluntário" empunhou a guitarra e saiu tocando. Ainda ganhou o instrumento de presente no final de seu "improviso"! Da próxima vez poupem-me, senhores, disso e especialmente da hora da pirralhada, quando cerca de 6 crianças ficaram pulando, dançando e fazendo rodinha em volta do BJ. Três palavras vieram logo à minha mente: "Turma da Xuxa". Ainda bem que o Green Day não atacou de "Ilariê"! Tenho fé que algum gaiato ainda vai fazer essa montagem e jogar no YouTube...

Ah, e me poupem também das bombas que explodiam no balco a cada 5 minutos. Por que será que americano não sabe fazer evento sem bombas? (É verdade cara. Inglês não curte essa farofada! n.e.)

Eu gostei. Por 50 pratas, saiu de graça. Me lembrou shows dos anos 70 dos quais só se ficava sabendo pela imprensa porque não vinham ao Brasil. No lugar dos videos sofisticados hoje onipresentes sincronizados à música, apenas panos de fundo de palco com logotipos da banda. Iluminação bacana, telões de tamanho médio. O Green Day virou ícone mas não perdeu a punkestade.

(*) R$ 15, muito caro para estacionar lá dentro em lugar seguro. Fiquei com pena dos incautos que foram abordados por parasitas na rua e acabaram deixando seus carros em locais escuros, a 1km ou mais da entrada da Arena, pagando a criminosos pelo direito de estacionar na via pública. Mas também, quem não não sabe dizer NÃO aos ratos e seguir em frente até chegar onde quer, vai recalamar do que?

(**) Ao reproduzir esse texto para o Blog do Lobo o Scubi, editor deste blog, me informa agora ter visto no site da Globo.com várias fotos dos músicos usando fone. Fica portanto o dito por não dito: deve ter tido pré base, sim. We'll always get fooled again.

Paulo Malária
(Compositor, tecladista e produtor do Acidente,  banda independente de rock e grande conaisseur da história do rock)

2 comentários:

  1. Anônimo8:51 PM

    li esta notícia outro dia. hj voltei pra dizer que tava com vontade de ver o green day e ontem, a hbo plus, mandou um show ótimo. deu pra matar a vontade.

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  2. Eu também curto a música do Green Day em geral, Re.

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