11 de outubro de 2010

Rush in Rio: "Toque de bola pra continuar em campo"

Cartaz do show do Rush no Rio dia 10/10/2010
Paulo Malária foi ao show do Rush na Apoteose dia 10/10/2010 e deixou suas impressões para a lista de discussões da EldoPop, que o Blog do Lobo publica a seguir, devidamente autorizado pelo autor.:

O Rush está entre as minhas 20 bandas favoritas de todos os tempos e um show de 3 horas deles tinha tudo para me levar ao delírio, mas acabei saindo da Porkeose bastante estenuado. Quais as razões do mismatch entre o sonho e a realidade? Tentei encontrar algumas:

1) Não há dúvida de que eles consideram que a parte interessante de sua carreira começa em 1980, com o "Permanent Waves". Tudo o que veio antes parece ser tido como preparação e rende apenas um extrato, atirado como pepitas àquela parcela dos fãs, como eu, ávidos pela fase inicial - no meu caso, a que vai do 1o. disco (1974) até, já sem o mesmo entusiasmo, o "Grace Undder Pressure" (1984). Passou daí, para mim, é toque de bola para manter o time em campo, como fazem os Stones desde o "Tattoo You" (1981). É válido, até porque a opção seria tirar o time. Mas não rende nenhum novo gol de placa. Mesma coisa com o Rush. Mas é evidente que eles, na hora de escolher o repertório, põem no mesmo nível tudo o que fizeram dos anos 80 em diante, em detrimento do que veio antes.

2) Já isto considerado, o trio também parece achar que as músicas conhecidas são apenas um chamariz para atrair uma plateia maior, mas o que eles se esbaldam mesmo de tocar são temas obscuros, hiper-complexos, nos quais se divertem e podem mostrar todo seu ilimitado virtuosismo. Ressalvo que os termos "músicas conhecidas" e "temas obscuros" se referem a neófitos como eu, pois o Rush possui milhares de fãs capazes de se esgoelar cantando da primeira à última estrofe músicas que eu nunca ouvi em lugar nenhum (e nem eles, exceto nas suas coleções completas do Rush).


O show abriu com um divertido video que passa num universo paralelo onde o Rash (sic) toca no porão do bar de um alemão. Uma versão chucrute de The Spirit of Radio'' leva o público às gargalhadas que se transformam em euforia quando a banda emenda a música a sério, dando início à maratona de 3 horas, dividida por um intervalo: "nós estamos muito velhos e temos que dar uma parada", diz Geddy Lee ao final de cerca de 1 hora e meia. Durante esta primeira metade, no entanto, só reconheci, além do tema de abertura, mais 3 músicas: 'Time Stand Still', 'Freewill' e 'Subdivisions'. Não nego que me causou um certo desapontamento escutar tanta coisa desconhecida, às vezes techno demais, outras hard além da conta, e com aquele ranço "mamãe, olha como eu toco" que a gente já sabe que vai encontrar nos shows de Satrianis, Vais e outros guitar heros, mas não espera ouvir do Rush.

Rush Live in Rio
Veio o intervalo e a seguir uma nova dramatização no porào do alemão, não tão impactante quanto a primeira porque era a segunda, mas conduzindo a um retorno apoteótico da banda com 'Tom Sawyer'. Daí eles levaram o "Moving Pictures"(1981) inteiro, na ordem, emendaram com um sensacional solo de bateria onde Neil Peart só faltou fazer chover e no qual ficou explícito, para quem ainda não havia percebido, que o show é todo sobre uma base pré-gravada (mas qual não é?). Se alguém não tinha reparado nos teclados às vezes nada discretos que surgiam do nada, Peart encerrou seu solo acompanhado por uma jazz big band virtual. Foi a vez então do solo de Alex Lifeson, desaguando em 'Closer to the Heart', quando afinal os rushmaniacs dos anos 70 puderam começar a desfrutar sua parte no banquete. Que não foi muito longe: após um excerto de '2112', um tema do próximo disco que poderia ter a assinatura de qualquer banda de new prog metal e 'La Villa Strangiata', seguiu-se o indefectível final falso, e ato contínuo o gran finale com um pastiche de 'Working Man', iniciado em ritmo de reggae e encerrado com uma zoeira atordoante.

Quando a plateia começava a se retirar, entrou um terceiro e derradeiro video engraçadinho, mas este bem desagradável até, contando as peripécias de dois penetras no backstage do Rush após o show. A Paula disse que os penetras eram nerds. Eu conheço aquilo com outro nome, e nerd para mim também é outra coisa, mas já que ela falou, não insisto. Vá lá: eram uns nerds assim meio emo, meio glam... entendido? Tão constrangedor quando imaginar os músicos recebendo em seu camarim a visita desses caras eram as legendas. A tradução foi obviamente feita por um programa de computador e checada sem muito esforço por alguém que estudou português como língua estrangeira. Tratava o Rush de "a Rush" e tinha outros erros grotescos.

Em resumo, um belo show, mas se eu pudesse pediria ao Rush outro repertório. Sair da Porkeose sem ouvir 'Bastille Day', 'Circumstances', 'What You're Doing', 'Finding My Way', 'Xanadu' e outros êxitos inesquecíveis do Rush, para escutar no lugar desses clássicos um punhado de temas mais recentes e menos inspirados, foi de lascar.

O primeiro show deles no Rio, em 2002, no Maracanã, foi muito melhor, porque a setlist era melhor. E eles sabem disso.

Em tempo: Deixa eu engrossar a lista das músicas que não podiam ter faltado e faltaram: "In the Mood", "Fly by Night", "Cinderella Man", "Lakeside Park", "A Passage to Bangkok", "A Farewell to Kings", "The Trees", "Red Sector A"... Adicionem estas músicas às outras que já mencionei: 'Bastille Day', 'Circumstances', 'What You're Doing', 'Finding My Way', 'Xanadu'. Ei, querem saber? O show do Rush que eu não vi é muito melhor do que o que eu vi! Com todo o respeito.

Paulo Malária
(Compositor, tecladista e produtor do Acidente,  banda independente de rock e grande conaisseur da história do rock)

5 comentários:

  1. Anônimo11:30 AM

    Eu como um fã, não posso deixar de dizer que os seus comentários são demasiadamente sem conteudo. Cara, se você não gosta, não deveria falar mal. Me desculpe, mas você não entendeu o proposito, foi simplesmente uma tour como outra...eles escolheram um tema e só. Quem é você para julgar o que é, o que foi ou o que será. Você por acaso possui uma qualidade sonora (produziada por você) que chegue aos pés destes caras? Se não, por favor fique quieto. e bem quieto!

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  2. Anônimo, primeiramente, achei seu comentário muito agressivo para quem nem ao menos se identificou. Eu posderia simplesmente optar por não publicar o que vc escreveu. Mas assim fica muito fácil e prefiro lhe devolver a pergunta: quem é você, sujeito oculto, que covardemente não se identifica? Bicho, as pessoas têm direito a manifestar opiniões diferentes da sua, ou não?

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  3. Scubão, obrigado pela defesa do amigo. Sabemos quem é esta criatura que destilou recalque em seu blog, e só poderia ter sido de forma anônima mesmo, pois, além de covarde (et pour cause), já está com problemas de sobra... O show do Rush entrou nessa história que nem Pilatos no credo: foi só a desculpa que apareceu para me ofender. Poderia ter sido qualquer outro assunto. A peça vem me secando na lista da Eldo, onde são proibidos posts anônimos, e fica lá oculta que nem um fantasma pestilento. Quando leu que você está publicando meus comentários sobre shows no Blog do Lobo, correu para o BL e infectou-o. Isto é uma cobra peçonhenta que deu um bote achando que ia me quebrar, mas é cobra burra, errou o bote e acabou mordendo o próprio rabo. Vou lhe dar mais detalhes em off, pois qualquer assunto envolvendo esta aberração da natureza é indigno de frequentar o seu blog. Abração do amigo.

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  4. Anônimo4:48 PM

    Cara, o capítulo n. 2 da aula bem dada de progressivo a lá Rush foi de outro mundo e com muito vigor e peso, mostrando que quanto mais velhos os caras da banda arrebentam e tocam como se estivéssemos ouvindo os discos ao vivo , com som limpo e visual psicodélico como uma boa banda de progressivo.
    Se você é um Rush fan, já devia saber do repertório do show que foi divulgado pela realização de outras pernas desta turnê, portanto não foste obrigado a ir a esta aula de um vigoroso Prog Rock.
    Sinto muito , mas seus comentários e nada pra mim não vão fazer diferença, pois o som batia em meu peito e fazia meu coração competir com as ondas daquela super som, ainda posto aqui que este show reforçou o que comento em casa, " ta vendo porque não consigo escutar a tv num volume baixo !" repito várias vezes para minha querida mãe.
    O Rush avisou antes de começar agora é o Rash, e tinha gente passando mau no show amigo e eu so consegui ficar mais calmo depois que bebi umas cervas, pois até então tava tenso pela força e peso do som.

    Rush and roll the bones !

    Abração a todos e a você infeliz pessoa e fã !!!!

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  5. Paula8:23 PM

    Calma galera ! Ele gostou do show, mas esperava que fosse melhor ...

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